Andava meio distraída, com o olhar perdidos pelas paredes quase brancas de seu quarto. Talvez desejasse ler alguma resposta pra seus problemas ali naquelas manchas feitas pela última chuva de verão. Não encontrava nada. E era no nada que ia construindo seus dias, no nada era que se perdia, em amontoados de relógios, papéis e compromissos. Tudo isso era nada. O nada que se agigantava diante de tudo aquilo que realmente importava. Lucy não sabia o que vinha fazendo de seus dias. Há algum tempo tinha a impressão de que as noites davam lugar as manhãs sem que nada de realmente emocionante acontecesse neste intervalo. os dias tomavam acelerados o rumo das noites e seu contador mostrava que ela envelhecia sem o amor com que um dia sonhou. Em meio a isso tudo precisava se esforçar para não permitir que ninguém percebesse o vazio de sua vida. Agora preenchida com paredes manchadas de chuva.
terça-feira, 3 de maio de 2011
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Fractal de emoções
Lucy recorria à escrita todas as vezes em que as palavras faladas ficavam travadas em sua garganta. Desta vez não sabia dizer direito o que sentia, talvez fosse uma mistura de raiva, decepção e ciúme. Talvez fosse apenas pirraça por ter sido preterida. Racionalmente ela reconhecia que não podia ficar com raiva, as pessoas civilizadas agem da maneira como ele havia agido, mas para ela, este tipo de comportamento não era apropriada ao momento que viviam juntos. Tinha certeza de que não aconteceria nada demais. Tinha certeza de que ele precisava deste momento. Mas tinha medo de que ele se acostumasse a viver esses instantes. Tinha medo de que ele não a quisesse em seu mundo particular, quando ela o incluía em todas as esferas de sua vida. Reconhecia que flutuavam por espaços diferentes, conviviam nestes espaços com pessoas diferentes. Aquilo tudo era muito novo até mesmo para ele, como incluí-la sem parecer dependente e mal interpretado pelos demais? Precisava compreender tudo aquilo, mas Lucy, mesmo sabendo disso tudo sentia-se angustiada. Achava estranho que as pessoas de repente começassem a andar sozinhas.. como o bebê que de uma hora pra outra anda sem precisar de mãos dadas..
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Doía mais um pouco a cada dia
Entendeu que não havia mais lugar pra ela em qualquer canto daquele mundo conhecido.
Lucy estava com a cabeça rodando há semanas, mal tinha tido tempo de digerir os últimos acontecimentos, mas a Terra não parava de girar e mais coisas acontecerem.
Seu corpo explodia em vermelhos e cor-de-rosa, numa mistura de tons que doíam. Algumas coisas tinham se quebrado, outras ainda podiam ser coladas no futuro, quem sabe? Mas o pior de tudo é que não havia mais lugar pra ela naquele mundo. Tornara-se a vilã, a tecelã de todas as maldades a que o mundo estivera submetido nos últimos 30 anos. Não havia redenção. Não havia fuga. Não havia perdão. Não havia compreensão.
Uma pessoa pode ser julgada e condenada por querer levar sua própria vida da maneira que julga mais correta? Uma pessoa não pode estar sujeita a erros e mudar de idéia no final? O julgamento da tribo tem que ser o definitivo em relação a todos os temas? A vida tem que ser feita de separações?
Naquela madrugada algumas coisas se perderam entre galáxias inalcansáveis. Ficaram para sempre perdidas.
Doía todas as dores de um mundo que de uma hora para outra tornara-se injusto. Doía todas as dores de um coração que se vê abandonado e incapaz de agradar a quem quer que seja. Doía todas as dores da solidão.
Lucy estava com a cabeça rodando há semanas, mal tinha tido tempo de digerir os últimos acontecimentos, mas a Terra não parava de girar e mais coisas acontecerem.
Seu corpo explodia em vermelhos e cor-de-rosa, numa mistura de tons que doíam. Algumas coisas tinham se quebrado, outras ainda podiam ser coladas no futuro, quem sabe? Mas o pior de tudo é que não havia mais lugar pra ela naquele mundo. Tornara-se a vilã, a tecelã de todas as maldades a que o mundo estivera submetido nos últimos 30 anos. Não havia redenção. Não havia fuga. Não havia perdão. Não havia compreensão.
Uma pessoa pode ser julgada e condenada por querer levar sua própria vida da maneira que julga mais correta? Uma pessoa não pode estar sujeita a erros e mudar de idéia no final? O julgamento da tribo tem que ser o definitivo em relação a todos os temas? A vida tem que ser feita de separações?
Naquela madrugada algumas coisas se perderam entre galáxias inalcansáveis. Ficaram para sempre perdidas.
Doía todas as dores de um mundo que de uma hora para outra tornara-se injusto. Doía todas as dores de um coração que se vê abandonado e incapaz de agradar a quem quer que seja. Doía todas as dores da solidão.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Na corda-bamba-das-decepções
Até que ponto alguém tem o direito de invadir a vida de outra pessoa?
Não falo dessa curiosidade pop que gera perseguições ao cotidiano dos famosos e rende revistas nas bancas, mas de uma curiosidade ancorada na insegurança e descompasso dos anônimos.
Mães que roubam diários de suas filhas, pais que vasculham as bolsas dessas mesmas filhas, chefes que xeretam nos computadores de seus empregados e namorados/noivos/maridos que espreitam uma traição a cada sms, email, telefonema recebido por suas mulheres.
Até que ponto nossa insegurança pode sustentar atos infiéis?
Até que ponto o medo de perder a autoridade pode subsidiar ações inescrupulosas?
Não seria mais fácil apenas confiar?
Não seria mais delicado apenas perguntar?
Não seria mais honrado apenas deixar a vida acontecer e fazer o possível a cada dia para que ela de fato fosse/seja cheia de realizações?
Não falo dessa curiosidade pop que gera perseguições ao cotidiano dos famosos e rende revistas nas bancas, mas de uma curiosidade ancorada na insegurança e descompasso dos anônimos.
Mães que roubam diários de suas filhas, pais que vasculham as bolsas dessas mesmas filhas, chefes que xeretam nos computadores de seus empregados e namorados/noivos/maridos que espreitam uma traição a cada sms, email, telefonema recebido por suas mulheres.
Até que ponto nossa insegurança pode sustentar atos infiéis?
Até que ponto o medo de perder a autoridade pode subsidiar ações inescrupulosas?
Não seria mais fácil apenas confiar?
Não seria mais delicado apenas perguntar?
Não seria mais honrado apenas deixar a vida acontecer e fazer o possível a cada dia para que ela de fato fosse/seja cheia de realizações?
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Ainda se perguntava...
Ela ainda se perguntava por que tudo enguiçava todas as vezes em que vinha caminhando bem... era uma espécie de lei do universo? Por que só se envolvia com homens que estavam às voltas com tantos problemas? Ela mesma seria uma espécie de imã para esse tipo de situação?
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Decepções de cotidiano
Ainda não tinha digerido muito bem aquela decepção profissional. Tinha articulado cem mil planos em sua mente, todas as mudanças que faria caso tivesse conseguido a "promoção", mas tal como acontece nos filmes, não aconteceu. Se preparou a semana inteira, praticamente contava como certo o desfecho de toda aquela história, embora lá no fundinho uma voz lhe dissesse: "Cuidado Lucy! Não faça tantos planos assim!!!"
A voz que falava baixo era a certa, de repente aquela verdade ficou doída demais, explodindo numa enxaqueca terrível, responsável pelo seu péssimo humor naquele dia.
Olhava no relógio a cada dez minutos. "Ainda faltam cinco horas"... Tudo o que queria era ir pra casa, fechar-se em seu quarto, esconder-se em sua cama, em seu reino feito de edredons e travesseiros. Ainda não conseguia falar sobre o assunto. Mal conseguia passar em frente ao prédio em que tudo acontecera. Alguns sonhos mal chegam a ser verbalizados...
A voz que falava baixo era a certa, de repente aquela verdade ficou doída demais, explodindo numa enxaqueca terrível, responsável pelo seu péssimo humor naquele dia.
Olhava no relógio a cada dez minutos. "Ainda faltam cinco horas"... Tudo o que queria era ir pra casa, fechar-se em seu quarto, esconder-se em sua cama, em seu reino feito de edredons e travesseiros. Ainda não conseguia falar sobre o assunto. Mal conseguia passar em frente ao prédio em que tudo acontecera. Alguns sonhos mal chegam a ser verbalizados...
segunda-feira, 10 de maio de 2010
O fio mambembe das relações
Lucy sentia-se razoavelmente feliz. Razoavelmente feliz desde que ignorasse a insegurança que sentia por dividir seus dias com um quase completo desconhecido. Decidira caminhar ao seu lado, fazia até algum tempo, mas dados os últimos acontecimentos vividos, sabia que não podia confiar plenamente.
Sua maior dúvida, seu maior medo, trouxeram à tona o dilema: Não confio, mas penso que amo. Me defendo ou continuo amando?
Medrosa que era (ou talvez no fundo fosse até bem mais corajosa que imaginava) continuou fechando os olhos para os seus deslizes, caminhava ao seu lado, mas tomava cuidado para ir conhecendo o caminho. Se acaso ficasse desamparada, sozinha mais uma vez, ao menos saberia por onde voltar. Não perdia o caminho de vista, sempre caminhava olhando para o chão.
Gostava de sua companhia, chegava a desenhar alguns planos, até mesmo se enxergava num futuro próxima dividindo mais coisas com ele, mas não, não era o suficiente para que ela esquecesse o que houve e se sentisse segura.
Ruim andar na corda bamba, balançar a cabeça pra afastar um pensamento mau (mas verdadeiro, acusador) e ter que continuar se equilibrando no fio mambembe das relações. Por escolha, sim, mas porque no fundo sua esperança era maior que o medo.
Ela tinha que ser maior que o medo.
Sua maior dúvida, seu maior medo, trouxeram à tona o dilema: Não confio, mas penso que amo. Me defendo ou continuo amando?
Medrosa que era (ou talvez no fundo fosse até bem mais corajosa que imaginava) continuou fechando os olhos para os seus deslizes, caminhava ao seu lado, mas tomava cuidado para ir conhecendo o caminho. Se acaso ficasse desamparada, sozinha mais uma vez, ao menos saberia por onde voltar. Não perdia o caminho de vista, sempre caminhava olhando para o chão.
Gostava de sua companhia, chegava a desenhar alguns planos, até mesmo se enxergava num futuro próxima dividindo mais coisas com ele, mas não, não era o suficiente para que ela esquecesse o que houve e se sentisse segura.
Ruim andar na corda bamba, balançar a cabeça pra afastar um pensamento mau (mas verdadeiro, acusador) e ter que continuar se equilibrando no fio mambembe das relações. Por escolha, sim, mas porque no fundo sua esperança era maior que o medo.
Ela tinha que ser maior que o medo.
Assinar:
Postagens (Atom)